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Finalmente na energia eólica offshore, as novas plataformas flutuantes, conseguiram exito ao fim de 15 anos de labuta, a tentar por uma tecnologia já madura em terra no dip offshore, finalmente já um aerogerador flutuante em teste de exploração ao largo da nossa costa, o problema do uso dos aerogeradores nessa aplicação já tem solução prática, e se associa-se a estas plataformas de flutuabilidade automática e controlada por computador, os novos aerogeradores recentemente lançados pela da Siemens e da ABB com potencias de produção a rondar 6 MW cada, já está resolvido no imediato, o aproveitamento dos ventos fortes e constantes no nosso dip offshore, para a exploração comercial.
Para a energia das ondas temos boas condições naturais em termos de força da ondulação, constância e frequência das ondas, e boas condições climatéricas, bons apoios junto à costa, e boas infraestruturas perto dos locais de instalação preferenciais, e em termos de estaleiros e portos.
Temos também um longo e bom percurso de I&D nessa area que vai desde o INETI ao IST, e um pouco por todas as nossas Faculdades e Institutos. Estamos envolvidos em três centrais de renome mundial Pico, Limpet (Escócia) e AWS.[1] Sendo uma tecnologia difícil dado as condicionantes naturais do meio, o arranque comercial está a demorar mais, mas tal como aconteceu na eólica offshore, deve-se estar à beira de se conseguir obter um protótipo de uma instalação comercialmente rentável.
Há aqui também que não desistir às boas, anda-se a polemizar e a querer desistir desde 2007, muito por o Ministro se ter excedido, e ter anunciado o êxito total em grandes parangonas. A tecnologia não será fácil, mas por isso mesmo será compensatória, e não se pode ostracizar as falhas do último protótipo, ainda por cima de um tipo novo de uma aplicação que tinha dado resultados experimentais, é o caso do Pelamis em 2008, projeto conjunto da Pelamis Wave Power, da EDP e Efacec, senão outros vão aproveitar os 25 anos de experiencia e estudos da nossa Engenharia e Técnica, que as falhas que impediram a sua entrada em ritmo comercial sendo suficientes para fazer atrasar não são inibitórias de se obter resultados dentre de mais algum tempo, não se pode é torpedear o projeto
Os investimentos aqui podem ter impacto a nível global, quem o diz é Sarmento Rodrigues que esteve à frente do Centro de Energia das Ondas.
A pressa é inimiga dos resultados, não esquecer nunca, que até Edison fez primeiro 100 lâmpadas que falharam logo ao fim de pouco tempo, até fazer a primeira realmente duradora, e a diferença entre a última e a primeira, em termos conceptuais era mínima! Se tivesse abandonado as tentativas de aperfeiçoamento, outros que não a sua General Electric teriam ficado com a patente a preço de nada, e ganho os biliões de biliões que a General Electric ganhou e ainda ganha.
Em termos de ligação e cabos elétricos, felizmente para nós, temo uma companhia de raiz portuguesa[2] excelente produtora de cabos elétricos e em particular de cabos elétricos submarinos de média tensão, para ligação destes sistemas de plataformas e geradores a terra, o que vai permitir ter sinergias associadas.
“Não podendo já competir com salários baixos, não podendo controlar o preço do petróleo e havendo limites para o endividamento externo, só tem uma alternativa: acrescentar mais valor à energia que gasta e reduzir a dependência do petróleo recorrendo às energias renováveis em que é incomparavelmente mais rico do que a maioria dos países europeus." Na sua singeleza, este é o desafio e esta a oportunidade.
Sabendo-se que 60% do consumo de energia eléctrica em Portugal é nos edifícios e que nestes a maior fatia é para climatização, vemos imediatamente que a oportunidade das energia renováveis não está só na sua produção mas também em evitar que uma arquitectura inadequada e um ordenamento do território contra natura transformem em enorme fonte de despesa a incalculável riqueza que é a energia solar que recebemos e o clima de que dispomos.”[3] No mês de Janeiro de 2014 o consumo das energias renováveis (barragens mais eólica terrestre) supriu já mais cerca de 70% das nossas necessidades, não seria por isso muito ambicioso esperar que num futuro próximo o fornecimento seja feito quase na sua totalidade por estes sistemas, têm que ser aumentados para suprir a futura e tão necessária reindustrialização do País.
Nas Minas submarinas, as crostas de Cobalto e o Lítio, e os depósitos de sulfuretos maciços polimetálicos ricas em materiais semicondutores, misturados com Ouro Cobre e Zinco, já descobertos na nossa ZEE, fazem esperar uma exploração comercial auspiciosa, que nos poderá colocar na vanguarda da produção destes metais, tão necessários para as novas tecnologias.
Como só há uma empresa a canadiana Nautilus Mineral, a fazer a exploração comercial a nível mundial, e esta já se mostrou interessada em explorar experimentalmente algumas zonas nossas; e só o não está a fazer já, por as zonas solicitadas terem sido consideradas zonas protegidas, pelo que foi solicitado a reformulação do pedido para outros sectores; parece ser assim que alguma exploração experimental, vai arrancar a breve trecho.
As restantes empresas que se dedicam a esta área da exploração mineira submarina são dependentes diretamente dos Estados, o que equivale na pática a serem estatais, muito devido à extrema relevância estratégica para as novas tecnologias, a tal ponto que já causaram conflito entre o Japão e a China, com e troca de galhardetes de canhoeira entre eles ao discutir no local a soberania sobre umas ilhas desertas no meio do Oceano.
Por cá seria prudente fazer-se uma empresa com uma grande parte de capitais públicos, rondando os 50% talvez na alçada da Empordef- Empresa Portuguesa de Defesa[4], e fortes meios diretos e indiretos de controlo e acompanhamento, por forma a também controlar por dentro toda esta exploração, e não deixar tudo ao nível da conceção pura e simples por um número de anos específico, sempre dificilmente controlável devido à sua especificidade de exploração.
O número de missões científicas que todos os anos estudam e sondam os fundos da nossa ZEE alargada, especialmente a Inglaterra França Alemanha e Espanha, simultaneamente e constantemente, e o interesse despertado, assim o aconselha.
É necessário acautelar o futuro, e a longevidade produtiva deste sector, extraordinariamente rico em jazidas de sulfuretos polimetálicos, que são fonte de terras raras e metais raros e valiosos, e que estão na base atual das novas tecnologias, e, que noutros sítios como no Japão, já deram origem a conflitos de fronteiras marítimas com a China.
Como nós temos uma ZEE enorme onde esses conflitos são potenciais e expectáveis, e é um dos pontos de conflito para já com Espanha, pois não se julgue, que a luta deles pelas Selvagens serem consideradas rochedo e não ilhas, tem a ver com as cagarras!
É necessário que o Estado saiba acautelar os nossos interesses, defendendo-os primeiro, pelo que é necessário que não seja permitidas concessões de médio longo prazo, e sem o retorno devido e espectável, e sem a Transferência Tecnológica e de Know Who que nos ainda nos fizer falta.
Como tantas vezes já aconteceu no passado longincuo e no passado recente, basta recordar o triste episódio da perda de parcerias, e de Know Who consequente, no caso dos submarinos.
“Não temos de fiarmos de outras potências mas sim de nós próprios” [5]
O País assim o exige!
[1] http://www.marcasepatentes.pt/files/collections/pt_PT/1/300/302/Energia%20Oce%C3%A2nica.pdf
[2] Solidal citada em noticia do Expresso
[3] Professor Delgado Domingos IST
[4] Tal como foi feito com a Embraer Defesa & Segurança nas OGMA, com uma percentagem de 35%, o que é manifestamente baixo.
[5] D. João V
É por demais evidente a importância deste sector, sendo completamente incompreensíveis as hesitações e protelamentos que têm ocorrido ao longo dos anos da história recente, na rápida conclusão do alargamento do cais XXI que irá permitir a atracagem dos Mega-porta-contentores vindos do alargado e em conclusão Canal do Panamá.
Já o novo Porto de Tanger-Med está operacional e a ficar no radar dos operadores Marítimos e Logísticos, enquanto em Sines continua-se no eterno “vai-se fazer”! Por cá cede-se sempre, mais e mais a cada passo, a começar logo pelos principais protagonistas, que por cansaço com tanto atavismo, já só querem que se ande e com isso aparentemente, até já estão por tudo, e até aceitam a centralidade de Madrid.
No entanto com Sines operacional em pleno, e o transshipment a partir daí para os portos da Europa do Norte, a funcionar como deve ser, a pressão de Madrid de centrar o fulcro lá, desvanecia-se, e evitava-se que esta canalizasse o movimento do triângulo de Portos Algeciras, Tanger-Med, Cádis para a via FERRMED que se estende pelo Mediterrâneo e liga ao eixo Barcelona/Marselha/ Milão/ e Barcelona/Paris/ Hamburgo pelo menor custo do Transshipment versus volume total de carga transportada, em relação ao comboio.
Na realidade com os novos navios Mega-porta-contentores o comboio só faz sentido na média distancia, pois para o norte da Europa e mesmo para a zona oriental do Mediterrâneo o transshipment fica mais barato cerca 30%, e no transshipment associado a um meio mais directo de entrega é ainda mais, como no caso em que se usa a versatilidade conjunta do Roll-Roll a actuar, quer seja em meios rodoviários, quer seja com meios ferroviários, o que o tornará imbatível em toda a Europa, especialmente para os portos que ficam perto de zonas industriais fortes, sendo a sua versatilidade semelhante, se for feito o uso de navios Mar-Rio que permitem entregar nos portos interiores dos grandes rios navegáveis do Norte da Europa, e em alguns cá, desde que sejam dragados.
Acresce que ainda que com a recente inovação, já com patente nacional e vários protótipos de operação, que permite passar o Cargo Rodoviário do Roll-Roll para o Transporte Ferroviário, sem usar rampas nem gruas, usando praticamente só o motorista na manobra, tal permitiria baixar ainda mais os custos operacionais.
Com a nova Janela Única Portuária (JUP), que Sines remodelou e já implementou, verificou-se já que isso permite o eficiente tratamento informático do Cargo, antes das Atracagens e antes das Partidas, acelerando ainda mais todos os procedimentos usuais, e tornando os custos operacionais mais baixos ainda, com isso, o sistema ficaria super eficiente, claro que embora Sines com isso pode tornar se o porto preferencial da Europa do Sul Centro e Norte para os Mega-porta-contendores vindos do Panamá, e do possível novo canal a construir pela China na Nicarágua, e já actualmente em estudo final, e com isto, Sines pode constituir desde logo um Curto Circuito Permanente ao triangulo Algeciras / Tanger-Med / Cádis, mesmo para o Transshipment para o Mediterrâneo Sul, e claro que é necessário ser alargado já para poder ter espaço para operar 4 Mega-porta-contentores em simultâneo e assim se bater com os custos de Tanger-Med e poderá tornar se, com a ligação a ferroviária a Madrid, também o seu porto abastecedor preferencial.
Mas, essa ligação ferroviária, sendo Importante, porque resolve a captação das operações para Madrid e a média distancia/médio-cargo para Barcelona, Marselha, Milão, Sudoeste via ferrovia, não é por si a chave de captação dos Mega-porta-contentores, já que cada um deles leva em média 18000 contentores x 20 pés => 109 km de comprimento, e se considerar que há necessidade de algum espaço (digamos 10%) entre os vagões, chegamos a 109/0,9 = 121 km, se tudo fosse a transportar por via Ferroviária, o que seria absurdo, já que os custos do Transshipment são mais baratos e o transporte é mais rápido como se referiu, alem de que se transporta mais carga de cada vez usando as Auto-estradas do Mar que passam pela nossa costa para a Europa do Norte e para o Mediterrâneo.
Por isso todas as discussões havidas, com Transporte de Grande Velocidade para passageiros, e a pressão feita por Madrid para o TGV, em detrimento das linhas mistas, são absurdas, ou se quisermos ser mais acutilantes, são quanto muito uma manobra de diversão para nos desviar o foco de Sines, e das suas vantagens em relação ao triângulo Algeciras, Tanger-Med, Cádis, e o seu trabalho conjunto com o FERRMED Mediterrânico!
Quando mais hesitarmos com Sines pior será para nós, até porque a ameaça dos portos Ingleses, Franceses e mesmo dos Holandeses como Amesterdão, e até mesmo uma possível reactivação do porto de aguas profundas de Roterdão, actualmente já com custos operacionais incomportáveis, bem como dos Portos Alemães com Hamburgo à cabeça, seria muito reduzida, já que a sua saturação actual, e o seu custo actual e a sua falta de espaço para ampliações e a permanente necessidade de dragagem aumenta muito os custos, e causaria a sua não competição com Sines, ficando assim o Transshipment vindo de Sines sempre mais barato repete-se.
Para isso seria também conveniente, que houvesse uma negociação lesta e eficiente das condições de operação portuária, que há custos que estão a onerar para além do razoável alguns portos, condições essas herdadas dos tempos em que os métodos e operação eram os do fim do séc. XX, e mesmo algumas que se mantiveram hoje, como no fim do séc. XIX na mentalidade das gentes, embora já se esteja no séc. XXI!
Um possível porto de aguas profundas em Lisboa, na zona da Trafaria, embora conste também das 30 Medidas do Plano Mar em discussão publica actualmente, mesmo que com ele se esteja a pensar abastecer Madrid de forma directa, não constitui por si só assim, uma prioridade imediata, já que basta fazer a ligação ferroviária de Sines à linha do Norte e a Madrid via Évora, tudo em bitola europeia ou bitola dupla, como estava a ser prevista pela REFER; embora Madrid tudo faça para não actualizar a linha para carga, e insista no TGV; e estava essa ligação a Madrid feita com menor custo que o triangulo Algeciras, Tanger-Med, Cádis via FERRMED.
Os Portos Hub de Lisboa e Setúbal precisam de uma ligação ferroviária eficiente também à linha do Norte, e à linha do Sul vinda de Sines. Se possível via ponte Sobre o Tejo, usando novas linhas, caso não possa ser usadas as linhas do metro ligeiro.
Assim a linha preferencial para ligar Sines directo a Paris/ Hamburgo, seria a linha que segue por Salamanca/ Irum e que ligaria a Aveiro, esta ligação é a única que nos deixa livres do garrote estratégico de Madrid com o FERRMED, e que podia receber também o Cargo da linha Vigo/ Porto, e as mercadorias dos Portos Hub de Leixões e Aveiro e do Porto Regional da Figueira da Foz, sendo que este precisa de ser actualizado e dragado. Alem de canalizar também o médio-cargo/média distancia, de Sines/Setúbal/Lisboa para a Europa do norte, como se referiu.
Esta linha com algum esforço conjunto Portugal/Galiza, na modernização da linha do lado da Galiza junto à costa até S. Sebastian, podia ser aproveitada para canalizar para ela as mercadorias de média distancia/médio-cargo vindas dos Portos da Galiza antes de Espanha por a funcionar o troço Salamanca/Vigo de forma eficiente, era só estabelecer de forma rápida os acordos tantas vezes ensaiados, e desejados pela Região da Galiza.
O fecho da Golada Tejo só por si seria de fazer, porque isso protege a costa na Costa da Caparica e da linha de costa de Cascais a Lisboa. Para a exportação de cargas leves e de valor, e ou em Fresco do Dia, o Transshipment e o Ferroviário não é o transporte ideal, sendo para isso usado preferencialmente Avião, pelo que não se compreende a não ligação directa de Sines a Um Aeroporto na Zona, como por exemplo ao Aeroporto de Beja, que seria agora já que está feito o seu Aeroporto Natural, bastando rever o seu tarifário e as condições de operação, não se compreende a não inclusão deste aeroporto no Plano Mar, nem o desaparecimento do triangulo logístico Évora/Beja/Poceirão, pelo que o Município de Beja protesta com o “esquecimento”, e com razão. Sines tem ainda espaço e condições ideais, e vontade dos munícipes, para lá instalar indústrias transformadoras, que usem as mercadorias que entrem por ele, e que por ele possam ser reexportadas, obviando a transportes sempre demorados entre o porto de chegada de mercadorias ás indústrias transformadoras que as usam.
Hoje todos os especialistas são unânimes em salientar que os portos têm que trabalhar em sistemas intermodais, conjunto de sistemas ferroviários, aeronáuticos e rodoviários, embora pela natureza da sua localização geográfica, tenham uma via de trabalho mais económica e preferencial, e no nosso caso essa via mais económica e preferencial são as Auto-estradas do Mar, as outras vias servem como alternativa, e embora menos económicas tem que existir também, até porque há carga que devido à sua especificidade pode ter que ser despachada por essas vias.
Quanto ao tema da velocidade de um sistema ferroviário de carga, que pode sempre ser usado para levar passageiros andaria hoje pelos 220/250 km/h, os traçados desde logo são diferentes por via dos pesos de carga e dos esforços na linha, quanto muito podem ser pensadas logo em termos de redes de sinalização e sistemas e comunicações para serem ampliadas num futuro, quando se poder andar economicamente a mais velocidade com carga, mas será sempre mais caro para nós que o Transshipment, e, mais demorado, pelo que as guerras do TGV ou não TGV, (sistema só dedicado a passageiros) são absurdas, até porque é mais barato e rápido o Avião que anda sempre acima dos 350 km/h que é aquilo que um sistema tipo TGV dá, já hoje transportar passageiros para Madrid, Barcelona, Milão ou Paris de avião é mais económico e rápido comparando custos.
Há muitas dúvidas por isso, se o TGV seria a opção para passageiros mesmo para estes destinos. Não será é certamente uma prioridade imediata.
Imperdivel texto de Paula Brochado
Sr. Ministro,
Podia começar por citar Einstein com a tão badalada frase sobre a estupidez humana mas partindo do, provavelmente errado, principio que já a conhece, prefiro citar o Ricardo Araújo Pereira: “a liberdade de expressão é uma coisa linda: permite-nos distinguir os idiotas”. Salvaguardo já alguma pequena incorrecção mas ouvi isto na rádio (sabe o que é? aquele aparelho que tem no carro que lhe dá as notícias e o trânsito? já ouviu falar de Maxwell? Foi a investigação dele na teoria do campo eletromagnético que deu origem à invenção do rádio, sabia?).
Pois sr. ministro, acontece que depois de ler as suas declarações em que se diz “contra bolsas científicas longe da vida real” não podia deixar de sentir a maior repulsa por tamanha idiotice.
Antes que o Sr.. ministro se interrogue se não serei mais uma desesperada bolseira sem bolsa deixe-me esclarece-lo: já fui, sim. Sou doutorada em astronomia numa universidade pública (a melhor do país diz-se), essa ciência que, ironia das ironias, não podia estar, segundo os seus critérios, mais longe da vida real - mas, note bem, sou agora analista de negócio na Sonae - quer mais real que isto? Tenho por isso muito mais legitimidade em falar sobre este assunto do que o sr. ministro alguma vez terá, tendo o sr. ministro feito faculdade e carreira em privadas, sem sentir o seu, ainda que exíguo, talento avaliado, enxovalhado, esmiuçado e, por fim, recusado.
Pois eu, e milhares de outros em Portugal, já. E, sabe, os astrónomos já têm algum poder de encaixe e alguma tolerância jocosa tantas foram as vezes que, por um lado, os ignorantes nos perguntaram se lhes líamos as cartas astrais e, por outro, os ignóbeis nos acusaram de não fazer nada pela sociedade. Mas é por ter sido bolseira - não se amofine, não fui bolseira FCT, fui recusada vezes a mais do que as que me dei ao trabalho de contar - que lhe posso dizer que, não fossem as suas declarações mostrarem um profundo desrespeito e desconsideração por milhares de investigadores deste país, chegaria a ser ternurenta a sua ignorância - faz lembrar a minha avó, analfabeta repare bem, que há uns anos atrás me perguntou muito indignada o que é que eu aprendia na escola se não sabia a diferença entre alcatra e chambão.
Quando falo em milhares de investigadores não é de animo leve, o número traduz não só os que agora ficaram sem bolsa, sem projectos e sem expectativas: inclui também todos os que até agora contribuíram para que Portugal deixasse a cauda da Europa e todos cujo trabalho ficou agora hipotecado porque, sem querer ser dramática, pura e simplesmente deixou de haver futuro.
Da minha parte, escolhi experimentar aquela que o sr. ministro designa de “vida real” e estou cá fora - segundo o sr. ministro, estou fora do sistema das bolsas, estou agora num sistema perfeitamente bem regulado e previsível que é o mundo empresarial, correcto?
Confesse sr. ministro, deu-lhe uma certa vontade de rir. O seu argumento é tão falacioso que um incauto até acredita que existe tal coisa como “ciência longe da vida real” - isso é o mesmo que dizer “astronomia longe das estrelas” ou até “futebol longe do Pinto da Costa”: a ciência nunca estará longe da vida real da mesma forma que um prédio não está longe dos tijolos.
Se se quer referir à investigação científica que gera receitas então aí sr. ministro, assusta-me mais a sua sanidade mental, ou falta dela, do que as suas idiotices.
Se tiver ligação à internet sr. ministro (já ouviu falar do CERN? esse laboratório de física de partículas, longe portanto da “vida real”? Sabe então do papel do CERN no conceito da world wide web.) pode procurar pelo ROI (return of investment, é a sua praia de certeza que sabe o que é) do programa Apollo (pois, imagino que o feito da humanidade que foi a ida do Homem à Lua não lhe interesse minimamente) e, com certeza para seu espanto, pode verificar que por cada dólar investido no programa, e foram 25 mil milhões de dólares, houve um retorno de 14 dólares. 14.
Sabe multiplicar? Que a vida de investigador, o bolseiro em particular, nunca foi fácil em Portugal isso é um dado adquirido - quer-se rir um bocadinho sr. ministro?
Sabia que existe código de atividade profissional para astrólogo (CAE 1316) mas não existe um para investigador? LOL sr. ministro, LOL - mas já se perguntou porque é que apesar de não termos subsidio de férias nem de natal (imagine a nossa confusão em sentir a revolta dos portugueses quando o seu colega sr. primeiro-ministro cortou nos subsídios), de não sermos cobertos pela segurança social, de não fazermos descontos, de termos valores de bolsas que não são revistos há mais de uma década, e outros tantos desajustes com que, com certeza, está familiarizado, continuamos na ciência? já alguma vez pensou nisso? porque, acima de tudo, somos uns sonhadores.
Temos que ser sonhadores, temos que ser loucos, acreditar no que não existe, no que não vemos, no que não podemos tocar nem ouvir, temos que ir atrás para perceber porquê, perceber como, temos que questionar, dizer que não, temos que amarrar uma chave a um papagaio e largá-lo no meio de uma trovoada, que deixar as nossas culturas ganhar bolor e ousar pensar que a terra não é plana.
Se o sr. ministro acha que o sonho não tem lugar na “vida real” então tenho pena de si - tal como as crianças acreditam que os ovos vêm do supermercado também o sr. ministro deve acreditar que o seu rato sem fios veio da fnac. Se assim é sr. ministro, está no seu direito, mas então não se envergonhe e, mais importante, não nos insulte.
Sem mais
Transcrito por JB com a devida vénia para com a autora, arranjo gráfico nosso.
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